QUEM É JESUS

20/05/2010 09:42

QUEM É JESUS?

“O que dizemos nós hoje a respeito de Jesus de Nazaré? É uma resposta difícil, mas que deve ser dado num determinado momento de nossas vidas. Afinal, o ponto central de nossa fé é a pessoa, as palavras e as práticas de deste ‘Jesus, filho de José de Nazaré’ (Jo 1,45). Este era o nome dele, quando andava pelas estradas empoeiradas da Palestina, durante o décimo quinto ano do reinado de Tibério Cezar, sendo governador Pôncio Pilatos. Nascido de uma mulher chamada Maria e vivendo num determinado lugar, chamado Galiléia, Jesus é uma pessoa histórica numa época histórica, assim, precisamos conhecer sua mensagem, sua pessoa e sua prática, o que ele queria e o que fez”.

 

1 – CONTEXTO

A – O povo anseia por um Messias (Há’mashiac)

O judaísmo formado por Esdras e Neemias surgiram no período persa 538-333 aC. Ciro rei dos medos e dos persas, conquista a Babilônia, cidade onde o povo judeu estava cativo. Considerado um rei muito humano, Ciro permite aos exilados voltar para sua terra, a Palestina, sob o comando de Neemias (445-533) e Esdras (398). É dado a Esdras o poder de reorganizar o povo e restaurar a lei judaica, que se torna lei de estado. Esta reforma tem uma importância considerável para o futuro do povo judeu e Esdras é verdadeiramente o pai do judaísmo. (Ne 8).  Dominação grega no período do Macabeus (helenização) 333-63 a. C: Alexandre da Macedônia conquista a Grécia, assim divulga a cultura e língua (Coinê) grega, que daí em diante, aos poucos substitui o aramaico. Quando morreu seus generais dividem entre si seu império. Quanto ao Oriente Médio, o Egito sob Ptolomeu; a Síria ficou com Seleuco (dão o nome Selêucidas). Assim a Palestina fica sob o domínio de Ptolomeu. Os judeus da Alexandria, não compreendendo mais o hebraico desejaram possuir, para uso litúrgico na Alexandria, a lei em sua língua (grego), veio a tradução para o grego. Essa tradução criou vocabulário e o estilo que serviram para reescrever o Novo Testamento. Foi também a Bíblia dos cristãos.  A Palestina é invadida pelos Selêucidas e Matatias e depois seu filho Judas Macabeu assumem o comando na cidade organizando a resistência armada. A dinastia dos Macabeus resistem ao domínio dos Selêucidas que querem impor pela força a cultura e religião helenística, instalam no templo um altar a Zeus. Começa por esta época em Israel os martírios. Os irmãos de Judas e a seguir seus descendentes, restabelecem por um momento o reino de Israel.

 

No primeiro século a Palestina foi varrida por desavenças dinásticas , conflitos destruidores e , ocasionalmente, guerras. No segundo século a.C. , um reino judaico mais ou menos unificado foi estabelecido transitoriamente , segundo os dois livros apócrifos dos Macabeus. Por volta de 63 a.C. , contudo , a terra estava novamente em turbulência , madura para a conquista. Mais de um quarto de século antes do nascimento de Jesus a Palestina caiu sob o exército de Pompeu , e a lei romana foi imposta. Mas Roma, na época, muito extensa e muito preocupada com seus próprios problemas , não estava em condições de ali instalar o aparelho administrativo necessário para um governo direto.  Assim, ele criou uma linha de reis marionetes - a dos herodianos - para governar sob seu controle. Não eram judeus, mas árabes. Herodes Antipater (63 a 37 a.C.); Herodes, o grande (37 a 4 a.C.); Herodes Antipas.

No ano 63 a. C Roma começa seu domínio sobre o território da Palestina, primeiro com Pompeu, depois Otaviano (Augusto), este concedeu a Herodes o domínio sobre a Judéia, e, com sua morte no ano 4 a. C, o reino herodiano foi dividido da seguinte forma: Iduméia, Judéia, Samaria àArquelau; Galiléia e Peréia à Herodes Antipas; Ituréia, Gaulanítide e Traconítide à Felipe.

 

Cezar Augusto era imperador de Roma no ano 7 e 6 a. C. Ele dividiu o seu reino em varias províncias e vez por outra resolvia promover o censo, não somente para contar a população, mas também para saber quantidade de impostos que iria receber. Essa cobrança nem sempre era pacífica, e geralmente Roma usava pessoas destas províncias para cobrar. O povo do país podia manter sua própria religião e costumes. Mas a autoridade final era Roma e reforçada pelo exército romano. No ano 6 d.C. , o país foi dividido em duas províncias, Judéia e Galiléia. Herodes Antipas tornou-se o rei da Galiléia. Mas Judéia - a capital espiritual e secular -ficou sujeita a norma romana direta , administrada por um procurador romano baseado em Cesárea. O regime era brutal e autocrático. Ao assumir o controle direto da Judéia, mais de dois mil rebeldes foram crucificados. O templo foi saqueado e destruído. Impostos pesados foram criados.

Este estado de coisas foi melhorado por Poncio Pilatos, procurador da Judéia de 26 d.C. até 36 d. C. Os registros existentes indicam que Pilatos era um homem corrupto e cruel, e não só perpetuou, mas intensificou os abusos de seu predecessor. Pelo menos, à primeira vista, é surpreendente que os Evangelhos não contenham críticas a Roma , nem menções ao jugo romano.

 

B – Os vários grupos na época de Jesus

·         Fariseus: um grupo progressista que introduziu muitas reformas no judaísmo e que, apesar de seu retrato nos Evangelhos, se colocava em uma posição teimosa, embora passiva, a Roma. Fariseu quer dizer separado. Religiosamente eram as personagens mais importantes do judaísmo durante a vida de Jesus. Os Saduceus sentiram aversão por eles porque acreditavam e praticavam coisas que a interpretação literal da Lei de Moisés condenava. A maioria da gente simples, os tinha em grande consideração.

A principal queixa dos Saduceus contra os fariseus era de que haviam amontoado um enorme acervo de regras e regulamentos para explicar a Lei do Antigo Testamento. Os fariseus, embora considerassem o Antigo Testamento como a sua suprema regra de vida e crença, viam que eles não se podiam aplicar diretamente ao tipo de sociedade em que viviam. Para ter valor e eficácia precisava ser explicado de novas maneiras. Os dez mandamentos recomendavam, entre outras coisas, que se podia fazer o judeu piedoso em dia de sábado? Os fariseus tinham uma lista de regras para responder em termos práticos a essa pergunta. Assim, os fariseus inventaram tantas regras de peso moral para as pessoas piedosas. Jesus denuncia-os de hipócritas.  Aos olhos de Jesus o mal dos fariseus era o fato de julgarem que Deus só se interessava pelas exigências da Lei. A teologia dos fariseus não abria espaço para aquele Deus que Jesus conhecia como seu Pai, um Deus cheio de bondade e amor mais desvelado e solícito para com aqueles que eram apenas convencionalmente religiosos. Os fariseus aceitavam a autoridade do Antigo Testamento como um todo, e não apenas a Lei de Moisés. Não tinham dificuldade em crer na ressurreição dos mortos. A maior expressão do farisaísmo foi a criação das sinagogas, opondo-se ao Templo, dominado pelos Saduceus.

·         Saduceus: uma classe de pequenos mas abastados proprietários que, para desprazer de seus compatriotas colaboravam de forma insidiosa com os romanos. Esse grupo era formado por grandes proprietários da terra e pela elite dos comerciantes. Era um grupo pequeno mais de muita influência, dele provinham os Anciãos, isto é, aqueles que controlam a administração da justiça no tribunal supremo, chamado Sinédrio; do mesmo grupo provinha também a elite sacerdotal, que administrava o Templo e era responsável pelo culto. Os Saduceus, portanto, concentrava em suas mãos todo o poder político. Embora não se relacionassem diretamente com o povo, eram intransigentes com a sociedade e viviam preocupados com a ordem pública. Esse grupo foi o principal responsável pelo julgamento e morte de Jesus. Os Saduceus foram os maiores colaboradores da dominação romana na Palestina e sempre mantiveram uma política de conciliação, certamente pelo medo de perder seus encargos e privilégios. Por essa razão sempre foi o grupo mais odiado pela ala nacionalista do judaísmo.

·         Essênios: uma seita austera, misticamente orientada cujos ensinamentos eram mais prevalentes e influentes do que é geralmente admitido ou suposto. Tudo que faziam assumia alguma importância religiosa. Mantinham uma espécie de comunidade em Qumrã (às margens do Mar Morto), esforçando-se por preservar as tradições de pureza religiosa e moral do Antigo Testamento. Contudo nem todos os essênios viviam assim, alguns diferentemente dos grupos monásticos, casavam, porém somente por considerarem ser este o meio de continuar a espécie humana. A exemplo de algumas seitas, viviam os essênios na expectativa de um dia de crise na história. Deus, então reafirmaria sua soberania sobre o mundo, desbaratando os hereges da própria raça judaica, e os inimigos estrangeiros, como os romanos. Depois os membros da seita, e não a totalidade da raça judaica, seriam reconhecidos como o povo eleito de Deus. Assumiriam e restaurariam o culto de Deus no templo de Jerusalém.

·         Zelotes: Um grupo de guerrilheiros armados, cuja intenção era expulsar os romanos. Em 6 d.C. , quando Roma assumiu o controle direto da Judéia , um fariseu rabino conhecido como Judas da Galiléia tinha criado um grupo revolucionário altamente militante, conhecido como Zelote e composto, parece, de fariseus e essênios. Os zelotes não eram propriamente uma seita. Era um movimento com afiliados de várias seitas.

O nome zelota é atribuído a todo aquele que aderiu a um partido radical nascido na Galiléia, no tempo de Jesus e na época imediatamente posterior. O termo indica alguém que demonstra zelo e entusiasmo. Foram aqueles que mais se envolveram em ações diretas contra os romanos. Tinham a convicção religiosa de que não podiam ter outro senhor senão Deus e que, portanto, os romanos não eram vindos. Tinham uma insaciável paixão pela liberdade, e tão convencida de que só Deus podia ser seu amo e Senhor.

·         Sicários: também um grupo armado, seu nome deriva da palavra sicar, uma espécie de faca ou punhal usado nos atentados.

·         Nazarenos: Nazoritas ou Nazireus dos qual Sansão , séculos antes tinha sido membro; os Nazorianos ou Nazarenos , um termo que parece Ter sido aplicado a Jesus e seus seguidores, realmente , a versão original grega do NT se refere a Jesus.

·         Doutores da Lei: Também chamados de Escribas. No tempo de Jesus este grupo estava em ascensão e cada vez adquiria mais prestígio. Embora não pertencessem à classe mais abastarda, gozavam de uma posição de estratégia sem igual. Eram guias espirituais do povo, influenciando e determinando até as regras que dirigiam o culto. Por Seu grande poder residia no saber, pois eram especialistas na interpretação da Sagrada Escritura. Como as Escrituras eram a base da vida do povo judaico, os escribas acabavam se tornando especialistas em direito, administração e educação. Além do mais não ensinavam tudo o que sabiam e escondiam ao máximo a maneira como chegavam a determinadas conclusões. Após a destruição do Templo foram os escribas e fariseus que deram uma nova forma à religião judaica, tornando-a uma religião da Palavra.

A influência dos escribas se fez sentir principalmente em três lugares, no Sinédrio (tribunal superior), na sinagoga (casa de oração) e na escola. No Sinédrio se apresentavam como juristas para aplicar a Lei de Moisés em assuntos governamentais, administrativos e em questões judiciais. Na Sinagoga eles eram os grandes intérpretes da Sagrada Escritura, criando novas tradições através da releitura, da explicação da Lei para os novos tempos e circunstâncias. Eram eles que abriam escolas para ensinar a ler e escrever, formando novos discípulos.

 

C – O ambiente na época de Jesus

As pesquisas arqueológicas recentes trouxeram muitas informações sobre os diversos ambientes urbanos da Palestina da época de Jesus. Cesárea era seu porto, Sebastos, eram os mais ambiciosos e ousados projetos urbanísticos do Mediterrâneo oriental. Graças às escavações, sabemos que a cidade portuária era um importante entreposto comercial. Por ele fluíam Grãos, vinho, azeite, resultando disso um sofisticado aparelhamento urbano. Arqueólogos israelenses e americanos revelaram o traçado ortogonal das ruas e edificações com ricas fachadas e telhados, ornamentadas por colunas, revestimentos de mármore, mosaicos e paredes decoradas com pinturas. Cosmopolitana, mediterrânea, Cesárea englobava tradições judaicas, gregas, romanas e outras, num amálgama sofisticado, que reforçava as relações hierárquicas, unindo antes de tudo, as elites locais às imperiais.

Em Jerusalém, Herodes ampliou e embelezou o Templo, transformando o monte Moriá na maior plataforma monumental de todo o Império Romano. Desde o final da década de 60, a Universidade Hebraica de Jerusalém tem levado adiante escavações na colina ocidental da Cidade Velha, que dá para o monte do Templo e era habitada pela elite judaica. Uma séria de mansões, anteriores à destruição da cidade pelos romanos em 70 d.C., data, grosso modo, da época de Jesus. Uma das mansões, comparável às maiores do mundo romano, apresentava afrescos nas paredes, semelhantes aos do segundo estilo de Pompéia. A residência apresentava ainda mosaicos no solo, cerâmica local e importada, vidros, lamparinas e instalações destinadas aos banhos rituais judaicos (miqvot). A descoberta revela que as casas senhoriais judaicas, preocupadas com a pureza ritual, estavam bem integradas nas modas e estilos de vida das elites romanas.

Tiberíades e Séforis eram outros núcleos urbanos importantes, habitados em sua maioria por judeus, mas mostravam também uma mescla das tradições judaicas com o helenismo romano, sempre no que se refere às elites.

Nem toda a elite judaica estava compactuada, porém, com os dominadores romanos. A resistência ou recusa ao acordo pode ser avaliada por dois grandes monumentos arqueológicos, Massada e Qumram. A ocupação da colina de Massada por rebeldes judeus, algumas décadas depois da morte de Jesus, mostra a vitalidade da revolta nacionalista judaica. Mas a descoberta que mais causou sensação foi a do complexo Qumram, às margens do Mar Morto. Ali vivia uma comunidade de essênios que cultivava um estilo de vida austero, bem distante do cosmopolitanismo das elites judaicas de Cesárea, Jerusalém ou mesmo de Séforis.

Os essênios praticavam banhos rituais, copiavam os textos bíblicos, com destaque para a literatura profética (neviim), e criticavam as elites judaicas urbanas. Mais do que tudo, opunham-se à cúpula sacerdotal de Jerusalém. Embora nada indique que Jesus tenha conhecido a comunidade, a oposição à elite sacerdotal constitui um pano de fundo comum a Qumram e ao movimento do homem de Nazaré. Vale lembrar que estudiosos levantam a possibilidade de que João Batista, primo de Jesus, tenha conhecido os essênios, pois seu estilo de vida e sua pregação tenham certa familiaridade.

Afirma a Bíblia Sagrada que durante o ministério terreno de Jesus, o sumo sacerdócio foi exercido de Anás até Caifás, mostrando assim que a duração do seu ministério se limita aos anos de exercício das funções desses pontífices. Começou pois, sob o pontificado de Anás, durando até o pontificado de Caifás, o que não perfaz um intervalo de quatro anos. Desta maneira as regras estabelecidas pela Lei de algum modo já não eram observadas naquela ocasião; tinha-se abolido as normas segundo as quais o cargo era vitalício e transmitido por sucessão ancestral. Os governadores romanos confiavam o sumo sacerdócio ora a um ora a outro, e ninguém no cargo se mantinha por mais de um ano.

Josefo enumera, de fato, quatro sumos sacerdotes, que se sucederam de Anás até Caifás, declarando no livro das Antiguidades: "Valério Grato, tendo deposto do sacerdócio a Anás, nomeou sumo sacerdote a Ismael, filho de Fabi; pouco tempo depois, igualmente o depôs, e designou para o sumo sacerdócio a Eleazer, filho de Anás. No fim de um ano, depôs a este e entregou o sumo sacerdócio a Simeão, filho de Camith. Este também não exerceu suas funções por mais de um ano e teve como sucessor José, denominado também Caifás".

Assim fica evidenciado que o ministério de nosso Salvador durou três anos e alguns meses, visto que foram quatro os sumos sacerdotes, desde Anás até a Caifás, que ocuparam em quatro anos este cargo. A Escritura, nos Evangelhos, assinalam que Caifás foi realmente o sumo sacerdote no ano em que se consumou a paixão de Jesus (Mt 26.3-57; Jo 11.49; 18.13).

- As festas

No tempo e Jesus, três festas exerciam um papel importante - Páscoa, Pentecostes, e Tendas. São as festas de peregrinação em que o povo se reunia para manifestar a solidariedade, a união, e para celebrar os grandes feitos do Senhor, libertador do seu povo. Cada uma delas durava uma semana inteira e vinha gente de todos os lugares.

Os peregrinos de várias aldeias viajavam até Jerusalém em caravanas para evitar assaltos ou surpresas desagradáveis. Desde criança Jesus participava dessas festas (Lc 2, 41-50).
Na festa da Páscoa se celebrava a libertação da escravidão do Egito, além de outros acontecimentos da história. Foi durante essa festa que Jesus instituiu a Eucaristia, foi preso e morto. Ele é o autêntico cordeiro de Deus. Na festa de Pentecostes, celebrada 50 dias após a Páscoa, era o momento de renovar a Aliança que Deus fizera com o seu povo no monte Sinai. Lucas coloca no dia dessa festa a vinda do Espírito Santo sobre os apóstolos (At 2, 1-41). Na festa das Tendas, cada família construía nos arredores de Jerusalém uma cabana de folhagens, na qual morava por uma semana, relembrando os antepassados que moraram em cabanas quando saíram do Egito. À noite era, aceso candelabros de ouro no Templo e o povo saia em procissão levando tochas, iluminando assim a cidade inteira. Foi durante essa festa que Jesus declarou “Eu sou a luz do mundo” e fez com que um cego de nascença enxergasse a luz (Jo 7-9).

- Templo e Sinagoga

O templo representava o centro da vida do povo judaico. Era nele que todos, até mesmo os judeus que viviam espalhados fora da Palestina, se reuniam para prestar culto a Deus. O Templo era a casa onde habitava o Deus único, santo, puro. Assim podemos perceber o poder que os sacerdotes tinham sobre o povo, sendo estes quem administrava o Templo e também por considerarem que estavam mais perto de Deus, e conseqüentemente eram eles os mais puros. A autoridade dos sacerdotes acabou transformando o Templo não só no centro da vida religiosa, mas também da vida política e econômica. É por isso que no tempo de Jesus o Templo possuía riquezas imensas (era o Tesouro Nacional), e toda a cúpula governamental agia a partir do Templo, (o Sinédrio que reunia sacerdotes, escribas e anciãos). Desse modo a morada de Deus se transformou num lugar de poder. Quando Jesus expulsou os comerciantes do Templo, estava na verdade, atacando o alicerce da sociedade judaica. O Templo era o lugar de culto e o povo freqüentava, principalmente por ocasião das grandes festas. Na vida comum, porém, o centro religioso era constituído pelas grandes festas. Na vida comum, porém, o centro religioso era constituído pela sinagoga, presente até mesmo nos menores povoados. Era o lugar onde o povo se reunia para a oração, para ouvir a Palavra de Deus e para a pregação, explicando o texto e relacionando-o com outros textos. Pelos Evangelhos sabemos que pelo menos uma vez Jesus, que era leigo, se apresentou para fazer a leitura do texto e interpretá-lo (Lc 4, 16-30).

O sacerdote não tinha uma função especial na sinagoga, porque esta não era o lugar de culto litúrgico. Embora qualquer adulto pudesse presidir a reunião, nem todos o faziam, ou por serem analfabetos ou por não se julgarem preparados para um comentário. As reuniões acabavam então sempre animadas pelos escribas e fariseus que, cada vez, propagavam mais suas idéias e aumentavam sua influência sobre o povo, adquirindo prestígio cada vez maior. Em Jerusalém. Algumas sinagogas tinham até hospedaria e instalação de banheiros para peregrinos. Até hoje as sinagogas são casas de oração e reunião dos judeus espalhados no mundo.

D – Jesus – Yeshua

Yeshua (ישוע) é considerado por muitos o nome hebraico ou aramaico de "Jesus". Este nome é usado principalmente pelos judeu-messiânicos - ou por pesquisadores, historiadores e outras pessoas que crêem ser essa a pronúncia original do seu nome.

 

O nome "Yeshua" deriva-se de uma raiz hebraica formada por quatro letras (Yod, Shin, Vav e Ayin) – que significa salvar, sendo muito parecido com a palavra hebraica para salvação” –, yeshuah e é considerada também uma forma reduzida pós-exilio babilônico do nome de Josué em hebraico , Yehoshua que significa o 'Eterno' (YHWH) salva. Essa forma reduzida era muito comum na Bíblia hebraica (ou Tanakh), que cita dez indivíduos que tinham este nome como podem ser visto nos versos de Esdras (Ezra) 2:2, Esdras (Ezra) 3:2 e Neemias (Nehemiá) 12:10. "Josué", o Yehoshua, reduzido como Yeshua (aramaico), ou reduzido como Iesous (grego; onde não se pronuncia o "s" final); com esse último nome, a Roma-Grécia apelidou o sucessor de Moshê ("Moisés"), onde virou cultura e tradição. O Hebreu era filho de Num da tribo de Efraim, nascido no Egito, circuncidado com o nome de Hoshêa, ao consagrá-lo para seu sucessor Moshê deu-lhe o nome de Yehoshua, pois dentre os que saíram do Egito, ele foi achado digno de conduzir o povo de Israel à terra de Canaã.

 

1 – Jesus, Um Judeu

 

Ele nasceu de uma mãe judia, e pertenceu a uma típica família judaica. Como todo filho homem judeu, fez o seu B'rit Milá, ou seja, foi circuncidado ao oitavo dia. De acordo com a tradição judaica, recebeu o seu nome no dia em que foi circuncidado, como os judeus o fazem até hoje. Ele recebeu o nome de Yeshua. O nome foi dado porque Yeshua significa "salvação". Yeshua recebeu a missão de salvar o Seu povo de todos os seus pecados. Pergunta: Yeshua falhou em tal missão? Espero que ninguém responda que sim! Se Yeshua não falhou, porque ainda há pessoas que insistem em dizer que os judeus não serão salvos? O povo de Yeshua descende de Avraham (Abraão), Itschak (Isaque) e Ya'akov (Jacó). O povo de Yeshua é o povo judeu.

 

2 – A cidade de Nazaré

 

Natseret (Nazaré), cidade onde Ele cresceu, foi fundada pelos descendentes do Rei David, e ficava na Galiléia, uma região totalmente judaica. Você conhece a história da Galiléia, berço de nosso Salvador? Pois é, pouco se conta nas igrejas que a Galiléia era um dos maiores centros de estudos judaicos de Israel naquela época. Yeshua não simplesmente "nasceu sabendo" tudo o que ele sabia. Lembre-se de que Ele se desfez de Sua glória para se tornar humano. Não foi por acaso que o Pai o colocou naquele local. Yeshua aprendeu de perto com alguns dos maiores rabinos daquela época. Você sabia que muitos de seus ensinamentos são citações de tais rabinos? Pois é, caro leitor, como você pode ver, sem conhecermos o trabalho de tal rabino, como compreender a educação que teve nosso Messias? Yeshua foi educado como um parush (fariseu).

 

Yeshua tinha uma saudável alimentação kasher, segundo a Torá em Vayicra (Levítico) 11. Isto significa que carnes como a de porco, coelho, répteis, camarão, etc., além de boa parte da gordura animal, não faziam parte da sua dieta. Durante o Pessach (a "páscoa" judaica), Yeshua como todo bom judeu comia apenas pães sem fermento. Yeshua também jejuava no Yom Kippur, o conhecido Dia da Expiação, quando o Cohen Gadol (Sumo Sacerdote) oferecia sacrifício pela expiação do pecado do povo.

 

Yeshua se vestia como judeu. Isto significa que não misturava lã com linho, conforme determinação da Torá. Yeshua certamente usava talit, o sagrado manto de oração que contém os tsitsit, que são as franjas que a Torá determina que usemos para nos lembrarmos de que devemos viver segundo os preceitos do Eterno. Os tsitsiyot de Yeshua possuiam um fio azul, que simboliza o caminho de safira descrito em Shemot (Êxodo) 24:10, ou seja o caminho do Eterno. Foi justamente nos tsitsit de Yeshua que a mulher que tinha fluxo de sangue tocou e foi curada. Não foi um simples ato de tocar em Yeshua. Tocar nos tsitsit significava que ela reconhecia nele a autoridade de Messias.

 

Como todo judeu de seu tempo, Yeshua também certamente usava kippá. O kippá é uma cobertura para a cabeça que representa nosso reconhecimento de que a Shechiná (Glória) do Eterno está sobre nós. É uma vestimenta que deriva das vestes sacerdotais na Torá.

 

No Shabat, pela manhã, Yeshua ia à sinagoga. Ao contrário de muitos hoje em dia que fazem tudo por um microfone, Yeshua sabia que antes de poder falar e questionar, era necessário aprender. Provavelmente, como era de costume, aos cinco anos Yeshua começou a aprender a o hebraico (sua língua nativa era o aramaico) e a estudar a Torá do Eterno. Por volta dos 13 anos, Yeshua provavelmente fez o seu Bar Mitsvá, uma cerimônia que marca a passagem da criança para a vida adulta. Como todo judeu, aos 13 anos Yeshua tinha que saber de cor toda a Torá.

 

No Shabat, Yeshua não só aprendia a Torá como recitava bênçãos. Estas bênçãos não são como nas igrejas pós-modernas. Não visavam prosperidade, mas sim darmos o devido reconhecimento ao Eterno da soberania dEle sobre nossas vidas. Ao declararmos Sua majestade, fortalecemos nossa fé. Ao fortalecermos nossa fé, nossa vida espiritual melhora. Com a vida espiritual melhor, somos mais felizes, mais preparados e nos sentimos mais próximos ao Eterno. O menino Yeshua sabia disto ao ler o Sidur (livro de bênçãos) a cada Shabat. Após sua maioridade, Yeshua também passou a participar da leitura do Tanach. É tradição judaica até hoje ler-se muito os textos sagrados no Shabat. Foi desta forma que Yeshua pôde ler o rolo de Yesha'yahu (Isaías) e declarar que Ele era o seu cumprimento. Yeshua sempre argumentava a partir das Escrituras, expondo-as perante o questionador (uma técnica rabínica).

 

Yeshua tornou-se um respeitado rabino. Para alguém se tornar um rabino, é necessário (até hoje) muito estudo. Este foi certamente um dos motivos (ou talvez "o" motivo) de Seu ministério só ter se iniciado por volta dos 30 anos. Ele ensinava a partir do Tanach (Tanach significa: Torá, Nevi'im / Profetas, e Ketuvim / Escritos). Ao contrário do que aparece nos filmes, a grande maioria dos discípulos de um rabino eram meninos, bastante jovens. Com Yeshua não era diferente. Vemos até mesmo pela idade em que morreram que os discípulos de Yeshua tinham entre 13 e 20 anos, no máximo. Eram meninos inexperientes.

 

Pelo Talmud, fica bem evidente que na maioria das vezes um rabino do Primeiro Século ensinava de uma sinagoga local. As sinagogas eram normalmente chamadas de Beit Midrash (Casa de Estudo). Os alunos que desejavam aprender daqueles rabinos freqüentemente viajavam grandes distâncias e, se fossem aceitos como talmidim (discípulos), eles dedicavam as suas vidas não só a estudar, mas também a viver com o seu rabino. Por outro lado, muitos dos sábios do Judaísmo do Primeiro Século eram itinerantes, viajando de cidade em cidade, de sinagoga em sinagoga, ensinando a Torá e fazendo talmidim (discípulos). O ministério de Yeshua certamente era itinerante, embora ele também utilizasse Kfar Nachum (Cafarnaum) como sua base. Tanto que nos Evangelhos vemos Kfar Nachum (Cafarnaum) sendo chamada de "Sua própria cidade." (Matitiyahu / Mateus 9:1). Em Kfar Nachum (Cafarnaum), muito provavelmente ele se hospedava em um quarto na casa de Kefá (Pedro). Contudo, ele certamente rejeitou a oferta de se tornar um rabino residente de Kfar Nachum (vide Lucas 4:43).

 

A maior parte do ministério de Yeshua consistiu das viagens dentre Yerushalayim (Jerusalém) e Galil (Galiléia). Mas por quê? Porque como todo judeu observante da Torá em Israel, ele tinha que ir a Yerushalayim (Jerusalém) e ao Templo para cada uma das três festas de peregrinação: Pessach, Shavuot (Pentecostes) e Sukot (Tabernáculos). O Talmud relata que os sábios aproveitavam as grandes multidões de peregrinos para ensinar um grande número de pessoas nas alas do Templo durante os festivais. Até mesmo aqueles rabinos que normalmente ficavam em uma só localidade faziam isto, por entenderem que era uma grande oportunidade de ensinar às massas. É por isto que vemos nos Evangelhos Yeshua frequentemente ensinando nas alas do Templo, sempre durante as Moedim (Festas Bíblicas).

 

A função de um rabino no início do Judaísmo era a de transmitir os ensinamentos (ou seja, a Torá) para a próxima geração. O livro de Pirkei Avot ("A Ética dos Pais") começa com estas palavras "Moshe (Moisés) recebeu a Torá do Sinai e a transmitiu a seu talmid (discípulo) Yehoshua (Josué) e aos anciãos; os anciãos aos profetas, e os profetas os homens da grande assembléia (geração de Ezra / Esdras)." (Avot 1:1).

 

O padrão de professor-discípulo para transmissão da Torá e do conhecimento do Eterno foi estabelecido desde o início da história, e temos como primeiro exemplo mais concreto a Moshe e Yehoshua (Moisés e Josué). Aos professores de cada geração era confiada a tarefa de fazer talmidim (discípulos) e formar futuros professores para a próxima geração. Geração após geração, de professor a aluno, os ensinamentos da Torá eram transmitidos. Um rabino do Judaísmo do Primeiro Século era dedicado exatamente a esta função (como é considerado função de um rabino até hoje): ensinar a Torá do Eterno. O propósito de sua vida era explicar a Torá em termos práticos e comunicar o conhecimento do Eterno para a geração seguinte.

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