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CARTA DO COORDENADOR - Nº 1
DIOCESE DE BRAGANÇA
RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA
Ministério de Formação
Caros irmãos e Caras irmãs. A Paz de Jesus a Todos e a Todas.
Como todos sabem, recebi por estes dias, a missão sagrada do serviço a formação na diocese de Bragança, substituindo o nosso amado irmão Tarcísio, que agora serve ao estado como servo da formação, nosso coordenador estadual. Eu, claro agradeço a confiança da coordenação diocesana e o apoio dos vários servos do conselho diocesano.
Meu nome é Robson Macias, moro na cidade de Irituia, onde está situada a Paróquia Nossa Senhora da Piedade. Desde os 14 anos participo da igreja. Fui coroinha, depois militei na pastoral de juventude, onde fui membro da coordenação paroquial e depois assessor do distrito III, posteriormente, por volta dos anos 89 e 90 conheci a RCC, em 91 fui morar em Fortaleza no Ceará, no mesmo ano voltei e em 92 iniciei em Irituia um núcleo do que viria a ser a RCC. Fui um dos primeiros coordenadores, coordenei os ministérios de pregação e formação. Na paróquia fui catequista, coordenador da pastoral missionária e neste ano ajudava o vigário na formação paroquial. Tenho 40 anos e sou solteiro, moro com minha mãe, minha irmã e uma sobrinha.
Após essa apresentação, desejo apenas fazer uma breve reflexão com todos, mais principalmente com os formadores diocesanos.
1 – O desafio da pós-modernidade.
Gostaria de em primeiro lugar nos situar na história. Quero logo fazer uma afirmação: “O evangelho não muda”, mas a realidade sim. Nossa realidade sócio-cultural não é mais a mesma de 20 anos atrás. Passamos pela sociedade moderna e agora estamos no pós-modernismo. O que nos chama a um enorme desafio. Levar o evangelho de Cristo, a Boa Nova da Salvação é um compromisso para qualquer época histórica do mundo. “Pregar o evangelho a Toda Criatura” é ainda nossa tarefa missional.
De maneira particular essa sociedade pós-moderna, não é somente de elementos negativos e nocivos. Porém, devemos ficar atentos, pois temos hoje uma cultura onde está em voga o “hedonismo, relativismo moral e religioso, o existencialismo”, para o pós-modernismo, o homem é a medida de todas as coisas, das que são e das que não são; não há espaço para Deus no atual estágio da humanidade. Chamamos isso de humanismo.
Todos os autores são concordes em que é preciso conhecer um pouco da MODERNIDADE para poder entender o que vem a ser a PÓS-MODERNIDADE. Por modernidade, entendemos todos os fenômenos sociais que acontecem decorrentes ao acesso das pessoas aos avanços da ciência e tecnologia e também pela rápida urbanização e proliferação de informação e cultura.
Na modernidade as pessoas gritavam: “DEUS ESTÁ MORTO”, na pós-modernidade com sua espiritualidade da Nova Era, a ordem é outra: ‘“NÃO EXISTEM ABSOLUTOS”, tanto têm importância o Cristianismo como os cristais, os florais e todo misticismo e cultos afros, orientais, etc. È difícil testemunhar da verdade a pessoas que não acreditam que há UMA VERDADE. Como também não é possível falar sobre o arrependimento de pecados, a pessoas que relativizam tudo, incluindo a moralidade e não crêem que exista pecado. Tudo é permitido e cada um é governado por sua própria consciência.
É mais um rótulo, dirá alguém. Não é. É uma atitude cultural assumida por um grupo cada vez maior de pessoas, nas mais diversas áreas da vida humana. É uma mudança de hábitos que está a sepultar aqueles que conhecemos e praticamos. Um conjunto novo de valores na música, na literatura, na arte, nos filmes, nas novelas, no modo de vestir e no trato com as pessoas. Está aí e nós o vivenciamos. Tanto que há certo tipo de pregação evangélica que já se amoldou a ela, como comentaremos depois.
Então precisamos estar antenados para que nossa missão seja produtiva, frutífera e eficaz. Nossa missão é levar “informação, formação e transformação”. É isso que o servo formador deve almejar. Nossa formação deve ser aquela que guarda nossa identidade, fortalece a unidade e lança para a missão.
2 – Contextualizando o evangelho.
O que é contextualizar? É preciso conhecer para quem pregamos e a quem formamos. Ajuda-nos a entender isto a palavra de Paulo em 1 Coríntios 9.22:
"Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns".
Se não entendermos bem a quem estamos nos dirigindo, ao público que estamos sendo enviados, por certo nossa missão não será 100%. Para maior compreensão, digo que a pós-modernidade é uma atitude intelectual que se expressa numa série de expressões culturais que negam os ideais, princípios e valores que constituem o suporte da cultura ocidental moderna. É uma época que está emergindo, substituindo aquela em que estamos inseridos, moldando cada vez mais nossa sociedade. É uma rejeição dos valores em que nós, fomos criados, valores esses que moldam nossa vida e se constituem no pano de fundo de nossa visão do mundo. O que chamamos de “cosmovisão”.
É nessa realidade que estamos inseridos.
Contextualizar o Evangelho não é reescrevê-lo ou moldá-lo à luz da Antropologia, mas sim traduzi-lo lingüística e culturalmente para um cenário distinto a fim de que todo homem compreenda o Cristo histórico e bíblico. A igreja chama de “inculturação” do evangelho. Nós da Renovação Carismática Católica, queremos levar a cultura de pentecostes ao mundo.
Por isso, precisamos ter cuidado com o “consumismo religioso”, uma espécie de religião que está disposta a sacrificar a verdade pelo simples prazer de satisfazer seus clientes. Esse tipo de religiosidade sem compromisso com Jesus Cristo, confunde mística com misticismo. Sem dúvida a “teologia da prosperidade”, ou ainda a chamada fé positiva, está em voga em muitas correntes religiosas do momento. A auto-ajuda cristã também faz muito sucesso, com sua psicologia teológica, se é que podemos chamar assim.
Olhando toda essa realidade o que podemos então fazer? Neste caso precisamos olhar a metodologia paulina de contextualização:
Em Atos 9:19-22 encontramos Paulo em Damasco com os discípulos proclamando Cristo nas sinagogas apresentando-O como “o Filho de Deus” e “confundia os Judeus que moravam em Damasco, demonstrando que Jesus é o Cristo”. Aqui encontramos Paulo logo após sua conversão a Cristo, expondo nas Escrituras que o Jesus que ele perseguia no passado tão próximo era de fato o Filho de Deus. A expressão grega para “demonstrando” (que Jesus era o Messias prometido), no verso 22, implica em demonstração com evidências objetivas, visíveis, o que nos dá a impressão que Paulo o fazia através do próprio texto sagrado, as Escrituras. Sua forma de pregação seguia a mesma dinâmica que ele viria a usar em todo o seu ministério entre os Judeus: demonstrando a partir da comprovação escriturística que Jesus é o Messias esperado (At 17:1-3). Paulo bem sabia que se alguém desejasse mostrar aos judeus que uma pessoa era o Messias, teria que fazê-lo através das Escrituras. Por isso sua abordagem foi baseada nas Escrituras, centralizada na promessa do Messias e promotora de evidências de que este era Jesus. Paulo aqui falava aos filhos de Israel, que se viam como os filhos da Promessa e, portanto, em toda sua pregação ele utilizava elementos históricos e marcos da relação entre Deus e Seu povo escolhido.
Nesta passagem, em Atos 17: 16-31, Paulo proclama a Cristo para gentios que nenhum conhecimento tinham das Escrituras. Paulo está em Atenas, o centro filosófico do mundo da época, e é conduzido até o areópago pelos epicureus e estoicos. Neste momento Paulo se encontrava em um cenário totalmente paganizado sem pressupostos judaizantes. O sermão de Paulo desta vez não se iniciou nas Escrituras vetero-testamentárias ou mesmo na promessa do Messias. Paulo lhes pregou Deus, a partir das evidências da criação e do deus desconhecido, “pois este que adorais sem conhecer é precisamente aquele que eu vos anuncio” (At 17: 23). Passa então a apresentar-lhes os atributos de Deus que “fez o mundo.... sendo Ele Senhor do céu e da terra” (v. 24), “de um só fez toda a raça humana” (v. 26), “não está longe de cada um de nós” (v.27), “notifica aos homens que todos em toda parte se arrependam” (v.30), “por meio de um varão... ressuscitando-o dentre os mortos” (v.31). Note que no verso 24, Paulo utiliza Theos para se referir ao “Deus que fez o mundo”, sendo o mesmo termo utilizado (Theos) para mencionar o deus desconhecido. Ele utiliza da idéia existente de deus para apresentar revelacionalmente o Deus da Palavra, criador de todas as coisas. O fim da mensagem é o mesmo: Jesus que morreu e ressuscitou.
Nesta sociedade pós-moderna onde “prevalece o pluralismo cultural e religioso, o experiencial e vez do racional, o místico” é que devemos anunciar e formar.
3 – Formação: O discipulado perene.
Em muitos momentos prefiro usar o termo Discipular, isto é, ato de fazer discípulos de Jesus. É assim que concebo a “formação”. Discipular, formar, catequizar podem ser palavras equivalentes, mas com significados bem distintos quando olhados no seu semantismo. Ser discípulo é ser “aluno, aprendiz” na escola de Jesus. O discípulo é aquele que segue e “imita” seu mestre. O caminho de Jesus é um processo de “transformação espiritual”. Neste caso espiritual não deve ser entendido como algo a parte da vida, mas a nossa verdadeira vida. Não é espiritualismo ou pietismo, mas a vida “conforme Deus quer”. De nada tem haver com subjetivismo, mas é inserido na concretude da vida.
Antes de sermos ministros, precisamos ser discípulos. Temos que formar, equipar, treinar o discípulo para o ministério, para o serviço na comunidade. O discipulado é permanente, mesmo que depois nos tornemos enviados (apóstolos). Nosso caminho apostólico será sempre de sermos eternos discípulos de Jesus.
Que Deus abençoe a todos
Robson Macias
Servo coordenador do Ministério de Formação Diocesano